sábado, 31 de julho de 2010

verbo sagrado

o verbo sagrado não se encontra sobre as nuvens
ou inscrito nas abóbadas sagradas
- não pergunte a Michelangelo onde está o verbo sagrado-
pois o verbo sagrado se encontra como se encontra a sorte
no biscoito chinês ou a alegria atômica nas proféticas lixeiras da urbe desvairada
verbo sagrado é a imagem culminante da transubustanciação do homem em delírios de pão e vinho
verbo sagrado é a saga da virgem imaculada de Maria Madalena a Lady Gaga
verbo sagrado é o foguete prometéico que explode todo dia no cu dos mendigos visionários
verbo sagrado é ir na contramão do pelotão só de sambacanção
verbo sagrado é o florescer da lótus no aterro sanitário
verbo sagrado é a acupuntura perigosa no corpo do Estado
verbo sagrado é a Tradição sendo cremada na Vila Alpina
verbo sagrado é a Família nuclear putrefazendo no casarão rodeada de moscas
verbo sagrado é a Propriedade se abrindo como uma vagina molhada a todos que a desejam
verbo sagrado é aquele que será roubado das entranhas do asfalto
tal como se rouba um beijo
da boca que sempre te escarra

Macalé

segunda-feira, 26 de julho de 2010

a imaginação de poder...

Minha imaginação te buscava só de pijamas

Corria solta pelas ruas e bares afora

Apelando no jogo de fliperama

Cantando como louca no jukebox

- quando te buscava numa canção de 0,50 centavos-

E te recordava enquanto a princesa

Dum castelinho na Rua Apa

Minha imaginação te buscava só de pijamas

E desvelara tua imagem

No fundo do copo americano

Sublimando até a última espuma

Em colarinho transbordada

E viajando dentre as nuvens

No Eldorado

Topou contigo, musa que a flechou

Enquanto um dardo

Numa ficha que rolou no jukebox

E deu play numa canção do Leonardo

Minha imaginação chorava agora de alegria

Pois sabia que ficou envenenada

Musa-flecha

Que varou veloz o corpo

Lhe atirou de volta ao palco iluminado

Minha imaginação, enfim,

abdicou do poder e ficou nua

Resolveu virar palhaça e se vestir de doirado

Cantando em brasa a pombagira que a flechou

Macalé

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A sede da sede

A sede da sede

A sede da sede
não cede
não molha
corta... corta...

suor não é água
tem sal
lágrima não é água
tem sal

sobra sal
falta terra
sobra sol
falta sombra

a falta corta
é pior que navalha
a falta corta
é bem mais afiada

Douglas Edimilson

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Valo

Vale o quanto preza
o que se pesa
pra quem e por quem
reza
Em quem o chicote pesa
o chumbo pesa
...a alma lesa

Vale a vida
vale nada
...vala comum

Vale uma bala
...perdida

Vale o que se nega
se despreza
se acumula
descarrega

Vale o resto
o rosto
o desgosto

Vale o que se troca
se consome
Vale a vida consumida
...consumada

Vale os vermes
que nos comem
consomem
a bebida que consola

Vale a dor passageira
que se perpetua
...a cada segundo


Vale um sopro
um soco
um afago

Vale o efêmero
...o que desfalece

Vale um objeto
um sujeito que nem cresce
...que falece

Vale um fetiche
uma fantasia

...uma azia.

Gabriel Rocha