quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Pétala ad infinitum

A delicada flor

não é menos

que a imensidão do céu,

e os mistérios do mar

Cada pétala

é céu

e mar

Gabriel Rocha

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ode aos idiotas

Sinceros votos de longevidade aos idiotas
que vivam 100,150, 200 anos a fio
pois é a partir dos idiotas
que se extrai o elixir da sabedoria eterna
a partir dos idiotas torno miha vida mais lírica
mais ínutil e mais perigosa
então vivam idiotas, vivam mais e mais
e estejam sempre presentes
quando eu estiver confortável demais
pra dizer que tudo vai bem
me chamem de 8926756-7
quando eu chegar no limite do confinamento
de vosso rebanho
estejam presentes pra dizer que eu sou
lunático, viado, estranho, burguês, esfarrapado ou, simplesmente,
não atendo ao perfil desejado
estejam presentes pra rir à vontade
da minha vontade
que um dia já foi de ser que nem vocês
e que hoje gargalha, avacalha e não cansa de agradecer
Por me mostrarem tão bem aquilo que não devo ser

Macalé

terça-feira, 14 de setembro de 2010



Perdia a hora,

bonde,
lugar,
esperança,
e vontade de esperar,

só resta agora
me atirar...

Texto: Gabriel Rocha
Fotos: Cela .

Revoluir



Evoluir numa espiral
Numa crescente
Expandir
Retrair
Dissipar

Curtir a ascensão
e se deleitar na queda
Mergulhar num poço de dejetos
encontrar o portal de outra dimensão
a cloaca do mundo
o paraíso, quem sabe
o avesso
frio no verão e calor no inverno
um drink no inferno
um safári no purgatório
dançar uma gafieira com deus e um tango com o diabo

Retornar à terra firme
Sapatear em terremoto
Estapear reis
Demolir castelos
Erguer sonhos que desabarão na tempestade do real
Renascer das cinzas e dos escombros
Juntar os cacos de si
Suspirar ao soar os sinos e as trombetas

Recomeçar de novo...

Texto: Gabriel Rocha
Foto: Cela .

terça-feira, 7 de setembro de 2010

aborto elétrico

-criador-criação-criatura-

crack
creck
crick
croc
k
cru
c
k
.
.
.

-deu-a-luz-a-um-omelete-existencialista-estatelado-
-nas-frigideiras-da-amargura

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

As quatro estações

Fazia inverno nas ondas de nossa maré
e depois a ressaca com chuva
nos fez de outono
mas tua prima Vera me viu
e fez coisas que vocês jamais verão !!!

Douglas Alves

terça-feira, 10 de agosto de 2010

palavra tectônica


... e as ruínas tremularam no quebrante e ousavam jamais voltar ao seu lar original e simplesmente cantavam para as pedras a melodia de ninar cometas e um belo dia se cansaram de tanta teimosia e desembestaram uma viagem pelas colinas de Malitrabi e se maravilharam com a paisagem e não voltaram mais e comiam muitas nozes e alcaparras mas jamais reclamaram por um abrigo nobre e sempre tiveram pés sujos e nunca fizeram questão de musas e o belo e verdadeiro todo dia desaparecia pelas frestas da janela e todos em coro principiavam a dizer: "maravilhas são vossas mães, que não nos negam leite!" e bobagens a parte a única e miserável coisa que sobrava eram os adornos porque o excesso é insolúvel e eu não posso reclamar por miséria porque a excelência dos patronos jamais tirará a corola iluminada de quem nasceu com o cú virado pra lua e de resto os gregos aparecem e aparecem com um arsenal de mentiras e favelas agourentas de Corintios e a metempsicose chegou no cúmulo de recriar parvos mitos que não assustam mais ninguém e o que eu poderia dizer a respeito se palavras somente codificam mal e porcamente o que é vivido e o que poderia eu explanar se a retórica é uma arte morta e o que eu poderia ao menos balbuciar se os ouvidos já não ouvem o que está mais junto a eles e o que eu posso se..."CHRASHBOOMBLANGBRRRBHAUMMM!" as palavras já não comportam a palavra?

macalé

sábado, 7 de agosto de 2010

Teus pés

torcia pra ouvir teus pés chegando
raspando e encostando no mesmo chão
levantando a mesma poeira
abrindo a mesma porta
sem pedir licença na entrada
sem pensar nos passos da saída
acordando todo meu resto de noite
tirando toda ela do escuro
teu rosto cortando o silencio
e o meu eu encostanto no teu outro
e o teu eu no outro meu
e nossos rostos se tornando um rosto
e mandando o tempo pro espaço
e brincando de pele apertada
e lavando a alma com suor
e nosso quarto dizendo universo
e nossas bocas sem dizer palavras
e nossas mãos
se perdendo e se prendendo
umas com as outras

Douglas Alves

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

futuros parachoques de helicópteros engarrafados

baseado no que pensei
minha idéia fumou a si própria

ao Vintém de saber que me deram na escola
mais vale o Real saber do mendigo

antes de rir da miséria alheia
saiba rir da tua própria

a gaia ciência transformará o
Ricardão num mártir

é preciso desabar seus castelos
antes que alguém o faça

enrole a linha do horizonte num carretel
e brinque de empinar tua alma!

quem tem boca tem medo,
quem tem cú vai a Roma

manual filosófico de mergulho:
o ser e o nado

todo o filé tem sua nervura

me falta paciência pra duas coisas neste mundo:
uma é entender o xadrez, a outra,jogar com as mulheres

se eu dependesse duma trepada pra ser feliz
eu tava fodido!

aos idiotas, muito obrigado!!!
sem vocês não saberia o que não-ser

quem nasce pra sonhar, amar e errar,
merece mesmo é apanhar

Macalé

sábado, 31 de julho de 2010

verbo sagrado

o verbo sagrado não se encontra sobre as nuvens
ou inscrito nas abóbadas sagradas
- não pergunte a Michelangelo onde está o verbo sagrado-
pois o verbo sagrado se encontra como se encontra a sorte
no biscoito chinês ou a alegria atômica nas proféticas lixeiras da urbe desvairada
verbo sagrado é a imagem culminante da transubustanciação do homem em delírios de pão e vinho
verbo sagrado é a saga da virgem imaculada de Maria Madalena a Lady Gaga
verbo sagrado é o foguete prometéico que explode todo dia no cu dos mendigos visionários
verbo sagrado é ir na contramão do pelotão só de sambacanção
verbo sagrado é o florescer da lótus no aterro sanitário
verbo sagrado é a acupuntura perigosa no corpo do Estado
verbo sagrado é a Tradição sendo cremada na Vila Alpina
verbo sagrado é a Família nuclear putrefazendo no casarão rodeada de moscas
verbo sagrado é a Propriedade se abrindo como uma vagina molhada a todos que a desejam
verbo sagrado é aquele que será roubado das entranhas do asfalto
tal como se rouba um beijo
da boca que sempre te escarra

Macalé

segunda-feira, 26 de julho de 2010

a imaginação de poder...

Minha imaginação te buscava só de pijamas

Corria solta pelas ruas e bares afora

Apelando no jogo de fliperama

Cantando como louca no jukebox

- quando te buscava numa canção de 0,50 centavos-

E te recordava enquanto a princesa

Dum castelinho na Rua Apa

Minha imaginação te buscava só de pijamas

E desvelara tua imagem

No fundo do copo americano

Sublimando até a última espuma

Em colarinho transbordada

E viajando dentre as nuvens

No Eldorado

Topou contigo, musa que a flechou

Enquanto um dardo

Numa ficha que rolou no jukebox

E deu play numa canção do Leonardo

Minha imaginação chorava agora de alegria

Pois sabia que ficou envenenada

Musa-flecha

Que varou veloz o corpo

Lhe atirou de volta ao palco iluminado

Minha imaginação, enfim,

abdicou do poder e ficou nua

Resolveu virar palhaça e se vestir de doirado

Cantando em brasa a pombagira que a flechou

Macalé

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A sede da sede

A sede da sede

A sede da sede
não cede
não molha
corta... corta...

suor não é água
tem sal
lágrima não é água
tem sal

sobra sal
falta terra
sobra sol
falta sombra

a falta corta
é pior que navalha
a falta corta
é bem mais afiada

Douglas Edimilson

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Valo

Vale o quanto preza
o que se pesa
pra quem e por quem
reza
Em quem o chicote pesa
o chumbo pesa
...a alma lesa

Vale a vida
vale nada
...vala comum

Vale uma bala
...perdida

Vale o que se nega
se despreza
se acumula
descarrega

Vale o resto
o rosto
o desgosto

Vale o que se troca
se consome
Vale a vida consumida
...consumada

Vale os vermes
que nos comem
consomem
a bebida que consola

Vale a dor passageira
que se perpetua
...a cada segundo


Vale um sopro
um soco
um afago

Vale o efêmero
...o que desfalece

Vale um objeto
um sujeito que nem cresce
...que falece

Vale um fetiche
uma fantasia

...uma azia.

Gabriel Rocha

quinta-feira, 17 de junho de 2010

ver- o- vero

Não bastava estar à deriva pra aliviar
Não bastava estar alheio ao mundo pisando em terra firme
Não bastava aumentar o radio até o último volume
Nada disso haveria de bastar para aliviar o desconforto
de dizer que tudo vai bem
Não bastava nem mesmo cruzar o mar
Lançar um bilhete de loteria a iemanjá
Não bastava completar a palavra cruzada
Nem a última carta no truco lançar
Não, não bastava ser feliz no jogo
Nem mesmo a um santo orar
Não bastava cair na benevolência sebosa do amor
Não bastava o vento bater à cara
Nem mesmo crer que a vida ainda tinha jeito
Não bastava sublimar, transcender, fingir gozar
Não bastava balbuciar doces palavras
E nem mesmo agradar por pura convenção
Não bastava profecia nem religião
Não bastava fingir que o engano é gostoso
Nem mesmo engasgar no pescoço o osso
Não bastava crer aos céus a divina providência
Nem mesmo gritar aos sete mares
Por alguma salina gota de alívio
Nada disso bastava
Bastava somente ser
Criança ainda o bastante
Para ver o cometa passar

Macalé

quarta-feira, 16 de junho de 2010

duração

quando te vejo partir
compreendo o gosto lacrimoso e senil da memória
quando te vejo partir
fica-me clara a ilha de edição que é a vida
quando te vejo partir
fica-me nítida a sombra daquele momento
e o acre paladar dos limoeiros
que nos cercam em meio a brincadeira
quando te vejo partir
o limoeiro e suas raízes me encobrem
com o rutilante gosto de passado curtido
e corrói-me com a acidez da lembrança
uma cítrica saudade dum quintal largo e florido
onde todos acenavam com mimos
imagem imortalizada
que agora dilui na película vazada
daquilo que já se foi

Macalé

sábado, 5 de junho de 2010

Luiz

E no que resultou minha amizade com um poeta daqui de Salvador:

Luiz

Modéstia a parte, Luiz
É um nome bonito
(um nome exótico...)
E é um nome que não é muito comum
Que bom!
Pois eu não gostaria de ser confundido
com qualquer um!
Eu lá tenho cara de nada!
Eu tenho é uma alma
E eu já transformei vinho em água
E eu devo ser respeitado por isso...
E eu também preciso de 12 discípulos:
Um pra perguntar por quê
Outro pra me responder
Um pra me botar a culpa
Outro pra me absolver
Um pra me por em perigo
Outro pra me socorrer
Um pra lavar minha roupa
Outro pra me fazer dormir
Um pra me arrumar trabalho
Outro pra fazer isso por mim
Um pra me fazer chorar
E outro pra me fazer sorrir...
E é só disso que eu preciso
O resto eu faço tudo sozinho
Porque o meu nome é Luiz
E eu sou a luz de meu caminho...

Luiz Silva da Silva e Silva

Cardápio

Eis aqui não só um poeta mas também um bom gourmet:

Cardápio

Pratos principais:
Ensopado de rato
Rato acebolado
Pombo a passarinho
Pombo de molho pardo
Purê de batata
Barata frita
Salada de limbo e bolor a vinagrete

Sobremesa:
Cocô de rato em passas

Grátis
Suco natural de chorume
e vitamina de vômito

Bom apetite!

Agradecemos a preferência

E volte sempre!

Luiz Silva da Silva e Silva

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O olho da rua

Eis aqui nosso futuro partido alto:

O olho da rua que me policia
me inibe a conduta
me deixa cismado
ele me escurraça
me cospe, me xinga
ele que me joga dentro do quadrado

O olho da rua é minha morada 3x
me chama, me enlaça, me atrai me condena
o olho da rua meu tudo meu nada

O olho da rua é um ralo seco
colírio nenhum me dissolve essa mágoa
o olho da rua me dá pão e circo
mas eu me resolvo é mesmo na cachaça

O olho da rua é minha morada 3x
me chama, me enlaça, me atrai me condena
o olho da rua meu tudo meu nada

o olho da rua que eu vejo de dia
me bota na fila dos desempregados
o olho da rua me fita de noite
me faz tropeçar na dureza do asfalto

O olho da rua é minha morada 3x
me chama, me enlaça, me atrai me condena
o olho da rua meu tudo meu nada

O olho da rua é minha penitência
se põe a travar toda minha eloqüencia
o olho da rua é a inquisição
me pega de noite de B.O. na mão

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Desejoalento

Mais um desejo se vai
mais uma noite termina
a fina garoa cai
um cinzento arranha-céu,
se perde no cinza do céu, e na neblina
E mais um desejo dobra a esquina

Uma ponta de agonia me espeta
e da ilusão me desperta
Tenho novamente os pés no chão
Antes os pés do que a cara

Mas tenho os olhos fixos no meu desejo
que se vai

E na cinza manhã de domingo
se esvai

Uma dose de amargura
desce goela abaixo
Busco abrigo na solidária solidão
repouso na cama do desalento,
sonho desatinos
E um desejo segue seu destino

Gabriel Rocha

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Religare


ventríloquo demiúrgo
goza às gargalhadas
o pão e circo encenado
o caótico trafegar dos carros
o ritmo engasgado das roldanas fabris
a dinâmica dos hackers a propor a entropia
as roletas do abismo a engolir os dados
a maquina de lavar abarrotada
lembrou, um dia, o começo de tudo:
força centrífuga
quasar a explodir tua unidade
a mente delirótica, deletéria, deambulante
desejando ardentemente
arrebentar os miolos na parede do acaso.
força centrípeta
latência possessiva
a desnudar tua existência
desejo do reencontro
busca de uma unidade esmigalhada
avante ao verso e à qualquer esboço de lamúrio
introjetar o microprocessador no macromultiprocessador
o grande liquidificador ensangüentado
a triturar bilhões de almas
religar as migalhas
esparsas nos balés das trevas
religar-se às trompas maternas da sabedoria
na doce desgraça chamada existir

macalé

à Mia

"O acaso é o melhor caso" Deego

...torrente estrondosa de amor e caos
tal como os arcos da lira de Orfeu
distorcendo em dedos lépidos
são as louras volutas
desmanchando em tez morena
e a chuva a banhar dois corpos num só
divina fusão
proferida em severa tempestade
fusão engenhosa
embalada por mãos de guri
fusão insana
encarnecida e transcendente
à qualquer tipo de expressão
grafada, falada, vista ou ouvida
fusão violenta de dois índios
brincando na chuva
e zombando do trovejante São Pedro
fusão de saborosos dervixes
a girar fulgurosos no asfalto
labaredas atômicas do amor
atiradas de pétalas abertas
frente ao majestoso Deus da chuva e da morte...

Macalé

segunda-feira, 26 de abril de 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

amor-origem-destino

Depois de longa ressaca curtida estou voltando à carne
VOLTEM POETAS!!! A carne não pode ficar às moscas

Amor-origem-destino

...e se o caminho é mesmo o amor...
O destino nada vale
Vale mesmo o trajeto
Tudo aquilo onde se perambula
De mãos dadas com o acaso
Tudo aquilo que se leva no lero
Sem fechar as normas ou impor juízo
O caminho da adição e do excesso
Ao caminho da abstenção e do controle
Amor de peito aberto ao vindouro
Seja lá qual seja
Sempre desatento e distraído,
Como o poeta já disse,
É assim que venceremos
Sempre caro demais
Pra caber no poema
Amor –broto- água- algodão
Amor- feijão
Fonte rica em ferro
Ferro abrasivo uma faca
Alimenta
Maltrata
Engorda
Mata
Amor frugal
Amor que se usa no arroz de mãe
Amor seminal
Não cumpre cartilha
Não demonstra fé genuína
Na pureza do amor cristão
Amor de fel
Amor que te lambuza
Adoça entorpece
Amor de mel
Amor que te come vivo
Verme voraz tempestivo
Amor primitivo,
Simplesmente é.
Amor primário ordinário
Matéria- bruta
Carta fora do baralho
Inconseqüente enquanto um curso
De meândrico rio desviado
Rio misterioso nunca trafegado
Por aqueles que temem topar
O confronto
A vazão
A incerteza
E deparar-se c'oa fúria titãnica
Dum insano amor correnteza
Mas se o amor é mesmo o caminho...
Na caravana de Eros viajas
Na estação Thanatos encerra-te

Macalé

Finalidade

Disparar trovões em matinês dionisíacas
Esfarrapar-se nas trincheiras do arrabalde
Jorrar feixes de luz no prisma feroz da madrugada
Esmigalhar mil fractais na boca da caverna
Especular mitologias galácticas em novas auroras
Traçar uma nova via-crúcis em desertos de caramelos
Pestanejar soberbo a liberdade em cabarés monárquicos
Desfiar as tumbas
Inocular as virgens
E calar os sábios
Tomar uma cerveja no inferno
E botar na conta de Deus
Feito tudo isso, talvez tenha sentido a palavra finalidade.

macalé

segunda-feira, 15 de março de 2010

Talvez


TALVEZ

Talvez despontado inocentemente o planeta júpiter e espalhado de modo despretensioso uma luz infra-vermelho sobre a paisagem
Talvez o dia tenha ganhado uma matiz jamais vista. Uma aquarela translúcida encobria os carros, as casas, e tudo virou um grande pudim luminoso. Ao resplandecer da luz do sol deu-se o embate cromático com Júpiter que, furioso, aumentou a tonalidade de seu infra-vermelho-encarnado-barbárico.O que nem mil barbitúricos produziriam em mente concretizava-se aqui e agora em plena luz do dia.
Talvez as ondas sonoras tenham se metamorfoseado em morcegos, lontras e planárias.
Talvez no ar que se respirava existisse o aroma dum éter escarlate.
Talvez a praia se tenha feito em plena Praça 14 bis. Sim! Nas grotas do Bixiga resplandeciam cachoeiras de âmbar com tesouros escusos. Velhos ancestrais de Pangéia retornavam de seu claustro milenar e desejavam somente uma colorida feijoada a ser apreciada de fronte aquela esfuziante paisagem.
Talvez irradiada agora por Jupíter e não mais pelo ex-rei sol.
Talvez tudo tendesse a vibrar de modo intenso, pulsante, sem nenhuma intenção.
Talvez tudo tendesse a transbordar num furioso dilúvio sem arcas nem baleias nem Gepetos nem Pinóquios nem Noés.
Talvez as coisas simplesmente eram sugadas pela aveia movediça, que não era Quaker, mas protestava contra o direito de permanecer íntegra.
Talvez o contra-fluxo gerado pelo acelerador de partículas tenha causado um estado de simbiose anárquica que tomou conta do planeta. Alunos cdf´s e misantropos misturavam-se aos pederastas de plantão, enfermeiras frígidas tomavam chá de quebra-galho com madames esquizofrênicas, corretores da Bovespa transmutavam-se em sacis histéricos com cachimbos de pedra, ciganas pérfidas debandavam 5 da matina atrás do culto evangélico.Uma multidão de emos correu de violão no braço atrás duma umbanda diarréica.
Talvez Júpiter simplesmente orquestrasse a sinfonia da degenerescência da civilização ocidental e já era tarde pra dizer se isso era bom ou mal.

Macalé

domingo, 14 de março de 2010

A vítima e o algoz

"Chego nos lugares e percebo as pessoas como personagens de um drama louco"

Waly Salomão

A vítima e o algoz

Re-significação do mundo através da magia
Qualquer dose de ópio é válida
Desde que se permita
Estar sempre aberto a orgia

Campo terreno: tristeza não tem fim
Felicidade sim

Campo sideral: a alegria ruma sempre em espiral

Basta estar sempre disposto a levitar com os pés no chão
Para se emocionar com o que há de objetivamente mais fútil
Para não mais dar valor as coisas mais valiosas
(Ouça bem: COISAS , estou falando de matéria, entidade palpável)
Para rir do sujeito que coloca o objeto a frente do sujeito
Antes de se tornar sujeito objetivo, aquele que tem direitos e deveres, que possui ou não ética, moral, religião, profissão, o sujeito já é sujeito.

É sujeito- subjetivo-sujeito a qualquer coisa

Sujeito vítima:Condenado a prisão perpétua no cárcere privado de sua própria consciência;
Condenado a ser sempre seu próprio refém.

Sujeito algoz: Condenado a transformar todo seu sofrimento em delírio;
Condenado a potencializar toda sua tragédia em alegria;
Condenado a pagar sempre um preço por sua ousadia.

Macalé

Vertigo ergo sum


''Os abismos atraem;a embriaguez chama a embriaguez;a loucura possui irresistíveis atrativos para a loucura. Quando um homem sucumbe ao sono, abomina tudo oque poderia acordá-lo. Acontece o mesmo com os alucinados, os sonâmbulos extáticos, os maníacos, os epiléticos e todos aquele que se abandonam ao delírio de uma paixão. Eles ouviram a música fatal, entraram na dança macabra e sentem-se arrastados no turbilhão da vertigem. Vós lhe falais, não vos ouvem mais, vós os advertis, não vos compreendem mais, mas vossa voz os importuna; tem sono do sono da morte.''

Eliphas Levi

Vertigo ergo sum

Prova-te imberbe
O gosto das trevas
O pão amassado
Curtido em enxofre
De Lúcifer surge
A face no espelho
Imagem cachorra
De ti em desvelo
Atesta teu gosto
O pecado já gasto
venal gargalhada
te rói as entranhas
em meio as relvas
floresta sangria
teu sétimo selo
teu pacto ígneo
calvário frondoso
xadrez com sabá
rumina esta terra
ao sétimo passo
vertigem rasgada
surrado caráter
feroz decrescente
te joga no risco
ciranda de fogo
a ida a teu núcleo
dispara no ocaso
tua estrela afastando
já luz rarefeita
no trágico encontro
Paracelso lhe volve
de frente a tua tez
tridente dourado
varando-lhe as vísceras
necropsia porca
lhe resta saber
na gruta obscura
que mais a perder?
Descida ordinária
A todos é lei
Quem sabe se lendo
A bíblia ao contrário
Te tornes de fato
Teu único rei

Macalé

sábado, 13 de março de 2010

deuses nobres, gases sagrados


...pois se ninguém me traz a lenha meu corpo acende na chama de meu grito acende na histeria no alarido no desejo de mergulhar permanentemente nas brumas papear com as brumas indagar porque são tão fofas e tão vagas, forasteiras em seu próprio território -o céu- o que seria dele se todas as nuvens resolvessem adotar um abrigo fixo?-pura e simplória devoção ao Céu PORQUE O CÉU É A IMAGEM DE DEUS com seus mosaicos gasosos nuvens incompletas que me lembram o amor paraísos deletérios de hidrogênio rarefeitos surtos de algodão atmosférico insurgência de deuses leves demais para se relacionar com bilhões de pesados elementos terrenos...

deuses nobres gases sagrados

ambos voláteis alegrias cósmicas a preencher o manto celeste
ambos partículas absolutas
ambos relacionam-se apenas com elementos raros

Macalé

quinta-feira, 11 de março de 2010

soul gourmet

...ofertar à Aurora meu doce manjar
cair debruços na eternidade
- a quantos KMs voa minha alma quando converso com os céus ?
viajo...
viajo enquanto puder
nos pudins da eternidade
e o caramelo será sempre a calda de meu sonho
a calda de meu sonho a desviar o que não foi
e dourar o que sempre será...

Macalé


Se os olhos são as janelas da alma...

Talvez no breu da pálpebra cerrada
Possa fitar, ainda que momentânea,
A casca de noz velada
N’universo de meu âmago
Uma vasta e também cega
Multidão de mãos atadas
Girando anos-luz
Em nebulosa ciranda de etern’alegria

Se os olhos são as janelas da alma...

Brinco de cabra-cega
Na vaga-idéia de ser

Macalé

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

do carnaval

Celebra-te desvairada a alegria
Que existe no simples fato
D’estar viva ainda
A aura sagrada da loucura

Mergulha-te em confete, loló e serpentina

Prova-te a boca
Dos mendicantes clowns à tua volta
Delicia-te c’oa coça fulminante
dos tamborins, pandeiros e repiques
lança-te ao estandarte da eternidade
no átomo-segundo duma porta-bandeira vadia

caia na multidão

multidão cega
que vê... agora com olhos libertos
multidão surda
que acolhe... agora n’alma a música
multidão muda
que goza... agora o estar-junto

carnaval

fantasia eterno-instantânea
sob máscaras de selofane
corpos psicodeliciosos
revelando por si só
O QUANTO VALE A CARNE

Macalé

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Manifesto Alegrista

Manifesto Alegrista

“Minha alegria é minha denúncia”

Miró

Rio de quem crê no casamento da alegria com o poder
Rio de quem pensa a vida como tabuleiro de xadrez
Rio de quem nunca topa sua terceira margem
E só navega no Tietê com medo de se perder
Rio dos idiotas
Que dão a medida certa do meu não-ser
Rio!De quem nega o já negado
E sonha com a revolução de cacharrel das telas de Godard
Rio de quem vai na exposição
E precisa ler o nome do autor pra se emocionar com a obra
Rio de quem paga fortunas
Pra morar em ‘neoclássicos’ prédios de isopor
Rio de quem compra Ferrari
Pra andar em Nova Iguaçu
Rio de quem sonha com um programa econômico
Pra todos os trabalhadores do mundo
Rio de quem mata golfinhos
Pra mostrar virilidade
Rio do segurança colérico
Que me espanca ao ter subido três vezes ao palco
Rio de quem divisa os morros da cidade maravilhosa
Rio de quem asfixia ainda mais a Marginal paulistana
Rio da sede de sangue do vampiro da Mooca
Rio dos sonhos gordurosos da família nuclear
Rio de quem vai pra Sé dizer que está cansado
Rio do machismo dos homens,
Mais ainda do das mulheres, que quando são não se dão conta
Rio das pessoas arrogantes e bonitas
Mais ainda das arrogantes e feias
Rio de quem só faz carnaval em fevereiro
Rio de quem confunde orgia com pornografia
Rio de quem vê a pessoa como meio
Rio de quem organiza a vida numa planilha de Excel
Rio de quem não tem olhos livres
Pra enxergar o inimigo dentro de si mesmo
Rio de quem ignora sua outra face
Rio de tudo isso................................
Que é parte de meu meândrico e longo curso

Macalé

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Madre-musa

Madre-musa

Laguna prateada em que me deito
Súbita corrente que me lava
Túnica inconsútil em que me banho
Lares, loucas trevas que deleito
Insípida é a chama que me expande
Não terei jamais lhe visto sem sangria
Deste jorro, em vasto peito, que me queima
Chamas louras me vasculham nas entranhas
Torpe mundo que me eleva dado um grito
Face etérea neste ser enternecido
...mergulho...
Mergulho em desertos de plasma
De dunas derretidas ampulhetas
Escorridas no desmanche das areias
E a placenta diluída reverbera
Na vertigem movediça aberta a veia
Num Saara ser perdido, a vaga-idéia
Intumescido no meu líquido primário
Quilométrica vazão que me alardeia
Pedaço, momento, fragmento
Meu descanso sonolento, sorrateiro
Eterno-silêncio-retorno
Vaga empresa no aconchego sublimada
Volta ao lar umbilical, doce utopia
Guarnecido em madre-musa, uma alegria!

Macalé

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Durante

durante

...e o durante valia, valia, valia...
valia toda a bruta surra de razão que depois viria
o durante que de tão gasoso
sempre passado parecia
e perecia...
o durante que inchado, inflamado
através de relógios de vento
era impiedosamente incinerado
fazendo perdurar apenas
moinhos ocos de areia
o durante que só durava envolvido olvidado
hermeticamente cantado e curtido
no dentro da bolha sabão
pois fora dela nem sequer havia
o durante lânguido golfinho viscoso
que da mão sempre escorregava
agarrá-lo?
Ah! pois nunca
quando pensas agarrá-lo
o durante já passou
será somente durante e perene
quando nem sequer
pingo a mais de passado escorrer
da íris dos olhos matreiros
que explodem c'oa linha do horizonte
revelando altaneiro teu mísero ser

Macalé

sábado, 30 de janeiro de 2010

Sonetorto de amigo

Dedicado a vocês, meus eternos irmãos de universo:

Aos companheiros de galhofa só vos digo
ainda bem que já não sois mulheres
mulheres fossem já teria sucumbido
na mesma rosa posto o bem e o mal me queres

mas logo sendo amizade fruta pura
só vos conservo o bem querer do amor pagão
de que mais vale uma amizade tão frondosa
senão tornar o ombro amigo um guardião

se c'oa mulher amor e ódio em sorvedouro
logra-te a vida no espasmo d'um segundo
contigo amigo o lance é lento e durad'ouro
perpétuo orgasmo esparramado pelo mundo

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Que porra de céu é esse?

“Pois o que é o Anticristo senão aqueles
que contra Pecadores fecham o Céu
Com grades de Ferro [...]”

Autor desconhecido


Que porra de céu é esse

Que não tem anjo preto

Que porra de céu é esse

Que não perdoa a farra

Que porra de céu é esse

Que só admite pessoas requintadas e de boa índole

Que porra de céu é esse

Que esconjura, barra e impede passagem aqueles que roubaram, mataram e pecaram

Que porra de céu é esse

Que só sabe dar lugar a mitologia nórdica d’um Jesus de olhos azuis

Que porra de céu é esse

Que não se pode beber e nem trepar c’oas nuvens

Que porra de céu é esse

Que tem entrada social e de serviço

Que porra de céu é esse

Que tem catraca e exige RG pra entrar

Que porra de céu é esse

Que não pode ter celulite, comer fritura e engordar

Que porra de céu é esse

Que tenho que pedir licença pra São Pedro, só pra me aproximar

Que porra de céu é esse

Que só quer saber de cordeiro manso

Que porra de céu é esse?

Só de pensar... Ave Maria!

Eu canso...

Macalé

Eu apertei a mão do infinito

Depois de longo jejum, facadas , porradas na caras e ,lógico, sarjetas infladas.



Eu apertei a mão do infinito


Eu apertei a mão do infinito
e ela estava vazia
e mantinha o som
a sombra
e o último gole
da pobre alegria que sobrava
o resto
o rastro
infinito descompasso
das arestas internas
que fazia o escuro ser claro
que fazia do tudo ser nada
que des-manchava
que se acabava
que fazia do príncipe o ladrão
era torto
sem direito
cacofonia
verbo sem sujeito
de seu mole movimento
seu único alento
de dentro
de fora
arrombando a porta

Douglas Alves

O silêncio

Outra balanço do nosso rei do balanço, das taras nas janelas saturnais e misto quente lisérgico.

O silêncio

O silêncio
sem ele
O que seria a música
a musa
e até mesmo a fusa
preenchida e cheia de graça
mesmo sem ser ave maria
O silêncio é uma preçe
é tudo
é nada
eu
você
O silêncio nos une
nos separa
nos compara
nos vale
O silêncio é uma prece
cresce
contém
expande
O silêncio prevalece

Gabriel oRocha

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

It´s a long way, it´s a wrong way

It´s a long way, it´s a wrong way


enquanto puder levitar
com pés postados no chão
qualquer viagem te vale
ainda que a face empoeire
ainda uma barba lhe cresça
ainda que o ânimo esgote
qualquer migalha de gozo
a ti já pombo sem asa
qualquer respingo de oásis
que escorra do fundo cantil
em qualquer desejo deserto
qualquer vintém de alegria
lançado de esmola ao chapéu
de ti já lugúbre idoso
qualquer neon purpurina
a pairar no ar congelado
um lapso
um ato
um segundo
de voraz folião desvairado
todo o possível sussurro
flauta doce sereia alardar
enquanto que seja possível
Mira-celi viver desbravar
qualquer viagem é
vale
e sempre será
se foi...
foi e nem se deu conta
que um dia haveria de estar

Macalé