quinta-feira, 20 de outubro de 2011

quasar

o movimento é o tempero do tempo
e no segredo da receita me perco
e na cronologia da cozinha
estico a massa do pão
tal como o vosso tempo
de cada dia
e ainda, tal e qual baiano matreiro,
espreguiço na renda da rede
minha livre sacanagem-
o ser que sonha
e que curte,
deliberadamente,
a bronha
e o delírio voluptuoso
duma imagem santa
fazendo o tempo ejacular
milhares de milésimos de segundos
na varanda do mundo

macalé

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O giro


serpenteio mecãnico ao redor do eixo
rotações entorpecidas
o giro em falso
girar,girar, girar
e não evoluir
nem estagnar
revoluir!
a contra-revolução
da figura geométrica
o minotauro esfarrapado
que em vão gira
na labirintite da estrada
o ser descarregado
que gira em busca de energia cinética
ao seu coração
o giro
-objetivo ou em falso-
rotacionado ou transladado
pausado ou incessante
o giro há de continuar girando
ainda que parado
e ainda que nada importe
para onde
e porque
se gira
o mundo-(o-u)niverso-
sugere
que tudo prossiga
interpele
questione
assassine
acione
'n' botões
que a todo o momento botem aos ares
tudo o que é construído
a cada segundo
e faça do giro
amigo do peito do tempo

Macalé

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Hoje me olhei no espelho
e tive medo dos meus olhos.
Não pareciam meus.
Eram sábios,
mas de uma sabedoria
que ignoro.
Eram sensuais,
mas de uma sensualidade
que só se tem aos 40 anos.
Eu não sei...
só sei que não eram meus

Sirley

terça-feira, 30 de agosto de 2011

errânsia

sei que errei
errei com 'h' maiúsculo
e sempre que te ver
vou estar errando.
e usar gerúndio
fora do lugar
não é nada
frente a um coração
que tropeçou
ao conjugar o verbo amar

Macalé

trans-piração

...pois quem vive sua...
soma
sente
sangra
sopra
some
soa...
e urge dum verso que urre
e refaça
a cada passada
um pequeno universo,
ainda que mal dito,
em salgadas gotas de rimas
seja na inspiração
seja na respiração
seja na transpiração
de escorrrer
n versos salgados
c'oa pessoa que se ama

Macalé

O céu da vovó

E ainda que,
perante aquele céu de brigadeiro
não haja a revolução que se esperava
todos
abaixo do inclemente astro
desbaratinavam
em busca duma mísera dose de rebeldia
uma qualquer vagabunda alegria
gargalhando furiosa
da piada de humor negro
que não foi contada
brincando com o absurdo d'estar vivo
e inventando a arte de driblar
com ou sem sorte
- em mais um dia-
a morte

Macalé

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Amaro branco

célula-mater do sonho
realização helicoidal
em asas de hidrogênio
crepúsculo hepiscopal
a nova odisséia estelar
explodindo no skyline da vida
sorrindo
sem-vergonha
e de todos
no ar- arimatéia- tropical
neurosfera transatlântica
paraíso além-cabralino
paraíso tupi-caeté-caramurú
paraíso zumbi- bumba-meu-boi
paraíso negro
singelo arco-íris
além da pálpebra cerrada
no globo de hemisférios perdidos
tensão austral-boreal
magnetismo virulento
dilatando os trópicos do absurdo
cheias lunares capazes de vida
feroz detratora e canibal
paraíso safado desgraçado e abençoado
comunhão homérica de vida transbordante
de absolutamente nada garantido, porém,
criado por um arquiteto caprichoso.

Macalé

ter sol

quem sabe gozar
da luz solar
já tirou as trevas de letra
quem já nasceu irradiado
morreu, vítima de terçol

makalux scariot

Epitáfio

Minha função é transmitir o medo
àqueles que têm como intento
comprar felicidades de plástico
nos templos de R$1,99
minha função é de espancar
todo dia o meu eu
por seguir a trajetória que seguiu
min ha função é gargalhar
das convenções fúteis
de quem sempre procura e promove
o caminho mais fácil
minha função é de praticar auto-lobotomia
e estraçalhar meu cérebro
à procura de poesia
minha função é avacalhar
as convenções dos idiotas
ainda que todo o dia questione:
porque você não está lá?
minha função é morrer todo dia
e desterrar minha própria cova em busca de vida
minha função é a de criar um epitáfio
além do 7ºpalmo regulamentar:
"Eis aí, o que esculpiu como uma besta
e criou um monstro de mármore
desprovido de pedestal."

Macalux Scariot

terça-feira, 22 de março de 2011


A caravana da morte
não possui norte
apenas uma vaga absorta
nas trilhas escondidas
do fogo
acobertada pelo manto negro
da legião dos tortos
nus em pêlo,
A caravana trilha às escuras
sem sol, farol, mapa ou bússola
A caravana serpenteia o breu
dos oásis abandonados
desconfia do longo caminho, porém,
o abraça com todo o vigor
caminha doravante
donde uma linha invisível encerra
a turva paisagem plana
doce caravana, doce caravana...

Macalé

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Frevo corsário

(para Elcio, em memória)

Eu quero ver o carnaval crescer
incendiar nosso amor pelas ladeiras de olinda
subo altos desço morros e escadas
todo esse sol simpatia se inspira na multidão

Quero uma preta que me beije colado
sonhando um sonho suado explode meu coração

É tão bonito ver meu povo nas ruas
colorindo a cidade
ouvindo o frevo en constante euforia
em boa viagem ou no pina
quero dançar com você
ouvindo o frevo en constante euforia
em boa viagem ou no pina
quero morrer de viver

Douglas e Macalé

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Teorema


... e a cabeça gira, gira,gira...
em 360° de febre voraz
tento traçar
a bissetriz de minha alegria
e escapar do baricentro da saudade
patinar sob eixo das abscissas
que flutuaram e sumiram...
saltar do alto das ordenadas
que por terra desabaram...
É... O destino até que podia ser uma equação de 1° grau!
Acontece que aqui,
tanto como na agronômia,
uma só raiz nunca há de vingar
A equação do destino
extrapolou todos os graus
vai além das derivadas
e das integrais,
do princípio redutor ou expansor,
e do mínimo multiplicador comum
nela a vida em linha reta
tá estreita demais pra ser feliz
pois há apenas um zilhão de variáveis
zombando de quem, inocente,
achava que a equação encerrava no 'x'

Macalé

domingo, 16 de janeiro de 2011

Aos caros

se amizade fosse picles
até poderia ser imersa em vinagre
mas amizade que vinga
não suporta o gosto acre da conserva
não merece nem sequer
uma salina gota de saudade
pois amizade que é gostosa se recicla
se reconstrói, se repensa e se renova
não tem receio de barriga
barba branca ou bengala
porque no seio da amizade existe sede
e no peito do amigo faz-se a sede
suficiente pra que o encontro não azede

Macalé

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

beatificação

eu vou sair distribuindo porradas do jeito que eu sei
eu vou sair no sereno esmurrando o coro dos contentes
à todos que me dizem ´bem quisto´
eu vou dizer que na verdade não existo
eu vou dizer que fali...
não, na verdade
eu vou dizer que não valho
nem o último centavo numa folha
nem a última notícia num orvalho
eu vou dizer que minha casa agora flutua
pois não precisa mais de minhas vertebras
pra sustentar sua laje
eu vou dizer que estou livre, enfim,
pra mamar nas tetas da lua
todo o néctar das noites brancas
e empregar meu miserável espólio
no valor exorbitante de minha alegria

Macalé

há via?

Fez muito sol

caí no mundo

escorreguei no sabão do meu juízo

tropecei na rocha do meu réu confesso

tombei no cimento amargo da verdade

Macalé