quinta-feira, 17 de junho de 2010

ver- o- vero

Não bastava estar à deriva pra aliviar
Não bastava estar alheio ao mundo pisando em terra firme
Não bastava aumentar o radio até o último volume
Nada disso haveria de bastar para aliviar o desconforto
de dizer que tudo vai bem
Não bastava nem mesmo cruzar o mar
Lançar um bilhete de loteria a iemanjá
Não bastava completar a palavra cruzada
Nem a última carta no truco lançar
Não, não bastava ser feliz no jogo
Nem mesmo a um santo orar
Não bastava cair na benevolência sebosa do amor
Não bastava o vento bater à cara
Nem mesmo crer que a vida ainda tinha jeito
Não bastava sublimar, transcender, fingir gozar
Não bastava balbuciar doces palavras
E nem mesmo agradar por pura convenção
Não bastava profecia nem religião
Não bastava fingir que o engano é gostoso
Nem mesmo engasgar no pescoço o osso
Não bastava crer aos céus a divina providência
Nem mesmo gritar aos sete mares
Por alguma salina gota de alívio
Nada disso bastava
Bastava somente ser
Criança ainda o bastante
Para ver o cometa passar

Macalé

quarta-feira, 16 de junho de 2010

duração

quando te vejo partir
compreendo o gosto lacrimoso e senil da memória
quando te vejo partir
fica-me clara a ilha de edição que é a vida
quando te vejo partir
fica-me nítida a sombra daquele momento
e o acre paladar dos limoeiros
que nos cercam em meio a brincadeira
quando te vejo partir
o limoeiro e suas raízes me encobrem
com o rutilante gosto de passado curtido
e corrói-me com a acidez da lembrança
uma cítrica saudade dum quintal largo e florido
onde todos acenavam com mimos
imagem imortalizada
que agora dilui na película vazada
daquilo que já se foi

Macalé

sábado, 5 de junho de 2010

Luiz

E no que resultou minha amizade com um poeta daqui de Salvador:

Luiz

Modéstia a parte, Luiz
É um nome bonito
(um nome exótico...)
E é um nome que não é muito comum
Que bom!
Pois eu não gostaria de ser confundido
com qualquer um!
Eu lá tenho cara de nada!
Eu tenho é uma alma
E eu já transformei vinho em água
E eu devo ser respeitado por isso...
E eu também preciso de 12 discípulos:
Um pra perguntar por quê
Outro pra me responder
Um pra me botar a culpa
Outro pra me absolver
Um pra me por em perigo
Outro pra me socorrer
Um pra lavar minha roupa
Outro pra me fazer dormir
Um pra me arrumar trabalho
Outro pra fazer isso por mim
Um pra me fazer chorar
E outro pra me fazer sorrir...
E é só disso que eu preciso
O resto eu faço tudo sozinho
Porque o meu nome é Luiz
E eu sou a luz de meu caminho...

Luiz Silva da Silva e Silva

Cardápio

Eis aqui não só um poeta mas também um bom gourmet:

Cardápio

Pratos principais:
Ensopado de rato
Rato acebolado
Pombo a passarinho
Pombo de molho pardo
Purê de batata
Barata frita
Salada de limbo e bolor a vinagrete

Sobremesa:
Cocô de rato em passas

Grátis
Suco natural de chorume
e vitamina de vômito

Bom apetite!

Agradecemos a preferência

E volte sempre!

Luiz Silva da Silva e Silva