quinta-feira, 17 de junho de 2010

ver- o- vero

Não bastava estar à deriva pra aliviar
Não bastava estar alheio ao mundo pisando em terra firme
Não bastava aumentar o radio até o último volume
Nada disso haveria de bastar para aliviar o desconforto
de dizer que tudo vai bem
Não bastava nem mesmo cruzar o mar
Lançar um bilhete de loteria a iemanjá
Não bastava completar a palavra cruzada
Nem a última carta no truco lançar
Não, não bastava ser feliz no jogo
Nem mesmo a um santo orar
Não bastava cair na benevolência sebosa do amor
Não bastava o vento bater à cara
Nem mesmo crer que a vida ainda tinha jeito
Não bastava sublimar, transcender, fingir gozar
Não bastava balbuciar doces palavras
E nem mesmo agradar por pura convenção
Não bastava profecia nem religião
Não bastava fingir que o engano é gostoso
Nem mesmo engasgar no pescoço o osso
Não bastava crer aos céus a divina providência
Nem mesmo gritar aos sete mares
Por alguma salina gota de alívio
Nada disso bastava
Bastava somente ser
Criança ainda o bastante
Para ver o cometa passar

Macalé

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