quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

do carnaval

Celebra-te desvairada a alegria
Que existe no simples fato
D’estar viva ainda
A aura sagrada da loucura

Mergulha-te em confete, loló e serpentina

Prova-te a boca
Dos mendicantes clowns à tua volta
Delicia-te c’oa coça fulminante
dos tamborins, pandeiros e repiques
lança-te ao estandarte da eternidade
no átomo-segundo duma porta-bandeira vadia

caia na multidão

multidão cega
que vê... agora com olhos libertos
multidão surda
que acolhe... agora n’alma a música
multidão muda
que goza... agora o estar-junto

carnaval

fantasia eterno-instantânea
sob máscaras de selofane
corpos psicodeliciosos
revelando por si só
O QUANTO VALE A CARNE

Macalé

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Manifesto Alegrista

Manifesto Alegrista

“Minha alegria é minha denúncia”

Miró

Rio de quem crê no casamento da alegria com o poder
Rio de quem pensa a vida como tabuleiro de xadrez
Rio de quem nunca topa sua terceira margem
E só navega no Tietê com medo de se perder
Rio dos idiotas
Que dão a medida certa do meu não-ser
Rio!De quem nega o já negado
E sonha com a revolução de cacharrel das telas de Godard
Rio de quem vai na exposição
E precisa ler o nome do autor pra se emocionar com a obra
Rio de quem paga fortunas
Pra morar em ‘neoclássicos’ prédios de isopor
Rio de quem compra Ferrari
Pra andar em Nova Iguaçu
Rio de quem sonha com um programa econômico
Pra todos os trabalhadores do mundo
Rio de quem mata golfinhos
Pra mostrar virilidade
Rio do segurança colérico
Que me espanca ao ter subido três vezes ao palco
Rio de quem divisa os morros da cidade maravilhosa
Rio de quem asfixia ainda mais a Marginal paulistana
Rio da sede de sangue do vampiro da Mooca
Rio dos sonhos gordurosos da família nuclear
Rio de quem vai pra Sé dizer que está cansado
Rio do machismo dos homens,
Mais ainda do das mulheres, que quando são não se dão conta
Rio das pessoas arrogantes e bonitas
Mais ainda das arrogantes e feias
Rio de quem só faz carnaval em fevereiro
Rio de quem confunde orgia com pornografia
Rio de quem vê a pessoa como meio
Rio de quem organiza a vida numa planilha de Excel
Rio de quem não tem olhos livres
Pra enxergar o inimigo dentro de si mesmo
Rio de quem ignora sua outra face
Rio de tudo isso................................
Que é parte de meu meândrico e longo curso

Macalé

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Madre-musa

Madre-musa

Laguna prateada em que me deito
Súbita corrente que me lava
Túnica inconsútil em que me banho
Lares, loucas trevas que deleito
Insípida é a chama que me expande
Não terei jamais lhe visto sem sangria
Deste jorro, em vasto peito, que me queima
Chamas louras me vasculham nas entranhas
Torpe mundo que me eleva dado um grito
Face etérea neste ser enternecido
...mergulho...
Mergulho em desertos de plasma
De dunas derretidas ampulhetas
Escorridas no desmanche das areias
E a placenta diluída reverbera
Na vertigem movediça aberta a veia
Num Saara ser perdido, a vaga-idéia
Intumescido no meu líquido primário
Quilométrica vazão que me alardeia
Pedaço, momento, fragmento
Meu descanso sonolento, sorrateiro
Eterno-silêncio-retorno
Vaga empresa no aconchego sublimada
Volta ao lar umbilical, doce utopia
Guarnecido em madre-musa, uma alegria!

Macalé

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Durante

durante

...e o durante valia, valia, valia...
valia toda a bruta surra de razão que depois viria
o durante que de tão gasoso
sempre passado parecia
e perecia...
o durante que inchado, inflamado
através de relógios de vento
era impiedosamente incinerado
fazendo perdurar apenas
moinhos ocos de areia
o durante que só durava envolvido olvidado
hermeticamente cantado e curtido
no dentro da bolha sabão
pois fora dela nem sequer havia
o durante lânguido golfinho viscoso
que da mão sempre escorregava
agarrá-lo?
Ah! pois nunca
quando pensas agarrá-lo
o durante já passou
será somente durante e perene
quando nem sequer
pingo a mais de passado escorrer
da íris dos olhos matreiros
que explodem c'oa linha do horizonte
revelando altaneiro teu mísero ser

Macalé