segunda-feira, 15 de março de 2010

Talvez


TALVEZ

Talvez despontado inocentemente o planeta júpiter e espalhado de modo despretensioso uma luz infra-vermelho sobre a paisagem
Talvez o dia tenha ganhado uma matiz jamais vista. Uma aquarela translúcida encobria os carros, as casas, e tudo virou um grande pudim luminoso. Ao resplandecer da luz do sol deu-se o embate cromático com Júpiter que, furioso, aumentou a tonalidade de seu infra-vermelho-encarnado-barbárico.O que nem mil barbitúricos produziriam em mente concretizava-se aqui e agora em plena luz do dia.
Talvez as ondas sonoras tenham se metamorfoseado em morcegos, lontras e planárias.
Talvez no ar que se respirava existisse o aroma dum éter escarlate.
Talvez a praia se tenha feito em plena Praça 14 bis. Sim! Nas grotas do Bixiga resplandeciam cachoeiras de âmbar com tesouros escusos. Velhos ancestrais de Pangéia retornavam de seu claustro milenar e desejavam somente uma colorida feijoada a ser apreciada de fronte aquela esfuziante paisagem.
Talvez irradiada agora por Jupíter e não mais pelo ex-rei sol.
Talvez tudo tendesse a vibrar de modo intenso, pulsante, sem nenhuma intenção.
Talvez tudo tendesse a transbordar num furioso dilúvio sem arcas nem baleias nem Gepetos nem Pinóquios nem Noés.
Talvez as coisas simplesmente eram sugadas pela aveia movediça, que não era Quaker, mas protestava contra o direito de permanecer íntegra.
Talvez o contra-fluxo gerado pelo acelerador de partículas tenha causado um estado de simbiose anárquica que tomou conta do planeta. Alunos cdf´s e misantropos misturavam-se aos pederastas de plantão, enfermeiras frígidas tomavam chá de quebra-galho com madames esquizofrênicas, corretores da Bovespa transmutavam-se em sacis histéricos com cachimbos de pedra, ciganas pérfidas debandavam 5 da matina atrás do culto evangélico.Uma multidão de emos correu de violão no braço atrás duma umbanda diarréica.
Talvez Júpiter simplesmente orquestrasse a sinfonia da degenerescência da civilização ocidental e já era tarde pra dizer se isso era bom ou mal.

Macalé

Nenhum comentário:

Postar um comentário